quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O mundo fervilha.

Almofada macia. Sofá afundando. TV 50". Full HD. Não muda de canal. Novela. Programa de auditório. Quem quer dinheiro? Roupa da moda. Grife. Festa de camisa. Música fácil. Bota a mão no joelho. Tira o pé do chão. Ordem do cantor. Carnaval no bloco. Carro do ano. Smartphone. Tecnologia de ponta até o mês que vem. Futebol. Jogo da Seleção. Ostentação. Viseira de cavalo. Conhecimento restrito. Falta de opinião. Zona de conforto. Inércia. Prego de caixão.

O mundo fervilha.
O amplo mundo.
O diverso mundo.

O mundo explode.

E você nem viu.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Afaste-se do caos,
por um momento.
Respire, avalie,
permita-se.
Valorize a solidão,
por um instante.
A clareza que ela traz,
a paz.
Organize em sua mente,
todos os planos.
Precisos, cirúrgicos,
metódicos.
Contemple a completude,
universal.
E, após um suspiro,
tome fôlego...


Bagunce tudo.

Lance-se,

Mergulhe,

Perca-se,

Misture-se,

Una-se,

De volta

à anarquia

do mundo.
      Diz pra mim, meu bem, o que há...
                                É o desejo de fincar raiz?
                                                   Ou é o medo de tentar voar?
O efêmero que te marca eterniza em tua memória e perpetua em sentimento.

Fui na infância e voltei remexendo o velho baú de vinis do meu velho. É impressionante como a música é capaz de nos imprimir vida e lembranças. Nós somos, também, vinis. A agulha toca nossa música ao mesmo tempo que nos arranha, nos grava e nos desgasta.
Seja o autêntico sentimento, de uma maneira que, se libertar tudo que é contido, a explosão será tanta que o mundo vira estrela e a estrela, supernova.
Fêmea.
Loira, ruiva, morena.
Sacia a sede, serena.
Expande a alma pequena.

Desejo.
Sorrindo, cobra seu preço.
Seduz e põe do avesso.
Tranquilo, afoito, travesso.

Clareza.
Questiona toda certeza.
Revela o mundo riqueza.
Na mão, na boca, na mesa.

Cerveja.

 
Eu sei que te apresento um sorriso bobo, um olhar vazio e palavras de disfarce. Por vezes você não percebe, e seguimos em frente. Mas, por vezes, algo nessa máscara te incomoda e você pede um pouco mais. Eu esquivo.
Há um certo receio em te deixar ir além. Esses olhos vazios escondem mais do que deixam transparecer, é a intenção. Trespassados, esses olhos vazios revelam um turbilhão de lamentos e amores, uma confusão de sentidos e sentimentos, uma efervescência de desejos, uma nebulosa de frustrações.
Não é me fazendo de difícil, ou querendo ser complexo. Não é medo. É a realidade. Uma vez dado o mergulho, em sua plenitude, não há retorno. Só há persistência, entendimento ou arrependimento.
Por isso não se engane (ou o faça, se quiser) por esse sorriso bobo, essas palavras de disfarce, esse olhar vazio. Esses olhos vazios escondem em si um universo.
Por vezes eu me sinto ilha: completo em meu ecossistema, me basto, me aceito, sobrevivo; mas sou pequeno, limitado, cercado de um nada por todos os lados. Mas basta um momento, um sorriso, uma conversa, um encontro, (um fim de semana), para me lembrar que sou universo, cercado de estrelas, de amor, amizade, reciprocidade. Sou Pangéia!

Na dança insana do tempo, ânsia dos momentos que já vivi e saudade dos momentos que viverei.
O cotidiano me cai e me esmaga, determinado e opressor, martelo forjando lâmina na bigorna. E eu, que antes reclamava, agora entendo, ou finjo, e aceito, e penso: "Afinal, qual o mal em todo dia ela fazer tudo sempre igual?". Acordemos então, diariamente, às seis horas da manhã.
 
Eis o meu dilema: insisti tanto no desapego que acabei me apegando à ideia e, por mais que não seja caminho de mão única, é imensamente difícil de voltar atrás.
 Felicidade não é meta, não é troféu. Felicidade é como você vivencia o caminho.
 E aquele riso que era fácil e solto hoje se mostra contido e calejado.
O sorriso esperançoso de ver que as coisas estão se movimentando, de ver que as pessoas cansaram de aceitar caladas toda merda que é lançada sobre elas, de ver que o conformismo, o egoísmo e o comodismo, tão fáceis de se adotarem, por vezes rompem-se em revoltas solidárias, em lutas justas, em uma comunhão em prol do que é melhor para todos e não só para alguns.
A tristeza cínica de quem já está acostumado a apanhar, que se vislumbra com um momento, com o rompante, mas guarda em si aquele sentimento de derrota, de que a luta é bela mas é utópica, de que no baixar da poeira tudo vai voltar a ser como era antes, engolido, apropriado pela máquina, o de sempre disfarçado de novos ares.
Mas mesmo assim, verás que um filho teu não foge à luta, e que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.